Dentro de sua gritante previsibilidade, há um ativo muito positivo quando vemos um filme baseado em HQ e percebemos uma tentativa de humanizar sues heróis, é até um clichê de realização e percepção (nesse caso falando de críticas!). O Superman, versão 2025, e com necessária direção de James Gunn, não foge a regra, mas temos aqui um criador que se impõe pela iconoclastia em seus filmes. Ou seja, é um filme muito maior porque coloca seu herói em perspectiva mais que humanizado, mas sim fora dos limites da idealização.
O filme já começa com uma intensa derrota do protagonista. Vemos ele caído, machucado, a caminho da Fortaleza da Solidão. Essa imagem diz muito sobre como Gunn vê seu herói. É a humanização a seu jeito. Seu embate com Lex Luthor (Nicholas Hoult, magnífico) tem ressonâncias políticas do presente, sendo um Superman do presente, sem tempo para estrutura de origem (como muita gente esperava!) com uma urgência discursiva que vai muito de encontro a direção espertíssima de Gunn.

Ainda que um de seus maneirismos artísticos mais interessantes (o recorte jukebox aliado a uma montagem clipada), esteja muito mais tímido nesse filme, a construção narrativa aqui, dosando comédia (o cão rouba a cena!) e política, para além da provocação latente à mitologia que tinha em mãos, dá a história uma personalidade e um pertencimento ao zeitgeist atual que farão bem ao universo DC a partir de agora.
David Corenswet é o Superman perfeito, dentro de seu carisma e tecitura dramática, assim como a química que estabelece não só com uma Lois Lane (Rachel Brosnaham, maravilhosa). A ambientação da redação aliás é um destaque (inclusive dali que sai uma importante virada do roteiro) e Gunn relembra que sabe lidar com heróis em coral ao integrar inteligentemente Lanterna Verde (Nathan Fillion), Sr Incrível (Edi Gathegi) e Mulher Gavião (Kendra Saunders).
James Gunn fará bem a DC, e seu filme-teste é uma boa lembrança de sua expertise como catalisador de personalidade em meio a um gênero que geralmente não sabe para onde ir e Superman traz para nós, espectadores, um alívio de nosso precioso tempo gasto na sala escura.